22.10.16

Salvaguardar nossa cultura é manter unida a nação

Terra em transe de Glauber Rocha.
Luiz Chiozzotto


"A verdadeira terra dos bárbaros não é aquela que nunca conheceu a arte, mas que, repleta de obras-primas, não pode nem apreciar nem mantê-las" Marcel Proust. 

Esse pensamento abarca diversas questões sobre cidadania, pois ser cidadão não é só ter deveres e direitos, pois dentre os deveres de um cidadão está também o de apontar os descaminhos de um povo a fim de que sejam corrigidos por aqueles que fazem reflexão a respeito, os intelectuais, os cientistas, os filosofos por exemplo; pois os trabalhadores estando quase sempre ocupados de mais com com os prazos da linha de produção, ineptos com a construção da “mais valia”, com os carnês à pagar e sobretudo com o alimento imediato de sua prole não tem tempo nem preparo para questionar isso ou aquilo de nossa cultura.  Um pequeno exemplo disso, que pode passar desapercebido por qualquer um menos observador é o de não ter opções de filmes diferentes daqueles americanos numa cidade, ou institutos de pesquisa cientifica, só para citar dois. Cidades de origem industrial do interior de São Paulo que no decurso de sua história formou massa de operários e que aceitarem dedicar-se exclusivamente à produção de bens de consumo e fornecer a sua força de trabalho. Esses cidadãos delegaram aos politicos e governantes o poder de decisões que abarcam questões de administração da cidade, políticos esses do bem e do mal que destinaram recursos ora para a saúde, ora para educação e quase nunca para a cultura.  E não termos um filme, um artesanato, um livro, uma pesquisa cientifica feita por nossos cidadãos em nossas próprias cidades aponta para o fato de que perdemos o contato com o que há de mais refinado em nosso povo, o seu conhecimento, seja este oriundo de seu intelecto, seja aquele que é aprendido e repetido de seus antepassados, aponta para o fato que perdemos contato com nossa própria cultura, com nossa criatividade, Se ignorarmos essa questão e não produzirmos cultura (livros, filmes, musica, artesanato, etc), e tão pouco preservarmos e valorizarmoos o que já produzimos estamos nos atrasando em relação a outros povos e suas culturas, Mas pior do que isso é não perceber isso acontecendo, é não encontrar espaços para exibir o pensamento e a arte de nossos cidadãos porque o espaço e o tempo estão destinados as produções de culturas externas, no caso do cinema nacional, a forte presença dos filmes americanos no país, seja nos cinemas que em aluguel e venda de dvds e a fins, formando uma espécie de corrente onde todos os gomos estão interligados e não nos permite inserir nosso pensamento, uma corrente que por fim nos aprisiona no pensamento de uma outra cultura externa. Se não acordarmos para esses fatos os bárbaros destruíram a arte de nossa civilização com sua pseudo-cultura ou pela falta da prática pelo nosso povo e nós não nos reconheceremos mais como uma unidade, como uma nação. Além disso a ignorância de um povo tem também origem na condução que é dada pelos seus governantes quando ao retirarem da cultura e da educação a sua importância e o seu valor, tornam o povo ignorante e, sobretudo afascinados pela mercadoria que produzem e que depois devem consumir, subservientes aos comandos dos manipuladores da verdade. Quando essa ignorância nos reduz a reclamar apenas de necessidades básicas do "ter", e nos acuamos e ou nos intimidamos em apontar necessidades mais refinadas, do "ser", percebemos o quanto embrutecemos nosso espirito.

E-mail chiozzottoit@gmail.com

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