22.10.16

No cinema a esperança de uma sociedade equânime




Il caso Mattei de Francesco Rosi.


Luiz Chiozzotto

O filme tem um tempo de sobrevivência mais longo que a vontade das pessoas que falam dele e da lembrança daquelas que fazem Cinema. Por isso nunca foi tão importante fazer filmes como é hoje, até por uma questão de sobrevivência de nossa sociedade. O filme que fazemos rudimentarmente mostra como nós vivemos o nosso tempo; diferente daquele filme que entra nas salas de cinema, que ao contrário, falseia a realidade em detrimento a um target especifico, ou a um interesse de uma determinada casta. Fazer filmes sem pensar em mostrá-lo naquele sistema inventado no séc. XIX, mas imaginá-lo sendo visto no celular, no iPod, na tela do computador, no aparelho de TV, DVD, Blue Ray, Data Show; ou projetado nas nuvens. O que importa é ter uma boa ideia, ainda o maior diferencial entre os filmes que valem a pena ser feitos.
A Itália é uma fonte de boas ideias,  um dos únicos países da Europa que não fez uma revolução, todavia com o cinema político dos anos 70 realiza a maior delas. Tão forte como uma revolução de rua, pois no decurso do tempo é possível revivê-la através de seus filmes, que à época foram feitos por cineastas intelectualizados e que encontraram no Estado e na iniciativa privada fontes para fazê-lo. Se hoje os filmes tornaram-se banais é em função do público blasé que deve referenciar, construído pela TV, cujos ideais se confundem com a propaganda de um automóvel zero quilometro, símbolo de status, e que dá a efêmera e falsa sensação de pertencer às elites quando se está dirigindo-o pelas estradas.  Aos brasileiros esses filmes italianos servem de referência, pois nesse momento estamos vivendo momentos semelhantes, onde o povo foi traído por um golpe de Estado permitindo a instalação de um governo que não ouve as massa populares, que não as representa, porque não foi eleito por ela, e está lá em decorrência de um conluio com a elite e a mídia e a omissão da justiça. 
Nossas políticas públicas não provêm da demandas desses governados. Nossos governantes partem do principio que os governados são desinteressados e mal informados sobre políticas públicas, e coadunam com as elites, essas sim os agentes que além de forjarem a opinião pública, manipulam, se comunicando com ela sempre de cima para baixo.
Os administradores e oficiais cumprem as decisões de quem está no poder, oriundas de demandas que partem das elites e não das massas, o que seria o correto em sociedades civilizadas. Dessa maneira não provendo das massas populares tais demandas, são os valores das elites que definem as políticas públicas, e elas têm a tendência de deixar tudo como está. Assim o sistema político todo depende do consenso e do interesse dessas elites, ficando as instituições democráticas nesse modelo de governo emanado das elites, apenas na esfera do simbolismo. As eleições e os partidos têm apenas valor simbólico oferecendo aos governados a sensação de estar exercendo a democracia, seja ao votarem, seja ao escolherem o partido político e os candidatos com os quais mais se apeguem. E como perceber isso quando a grande mídia, detentora dos meios de emissão da informação está envolvida no golpe e não levam a verdade aos televisores, jornais, revistas, rádios etc, senão pelo viés das vontades das elites? O cinema, este antigo e fiel aliado das massas tem ainda essa chama da liberdade iluminando, por ser de vanguarda, visionário e, sobretudo, anti-conformista.

E-mail chiozzottoit@gmail.com

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