Os
prédios principais estavam relativamente prontos, a ansiedade pela mudança para
o novo campus nos deixava muito apreensivos. Isso poderia acontecer a qualquer
momento, as perspectivas giravam em torno de alguns dias. Tudo estava
dependendo não apenas das condições dos prédios, pois todos estavam dispostos
há sofrer um pouco mais, não obstante, menos do que já estávamos sofrendo,
praticamente acampados em uma fábrica em Sorocaba. O problema estava sendo o de
encontrar uma empresa de mudança com qualidade o suficiente para transportar a
imensa quantidade de mobília, equipamentos frágeis de laboratório, caixas de
documentos etc. Lembro-me que quase todo inicio de semana Carlos do RH vinha
com a informação, logo pela manhã, que seria no dia seguinte. Ficávamos todos
entusiasmados, no decurso do dia nada se concretizava e continuávamos
entulhados mais uma semana em salas apertadas nas instalações de uma indústria
química (NCH). A euforia era grande com a ideia de poder ocupar as salas
definitivas nos novos prédios, que não eram muitos, apenas três prédios e meio.
Projetávamos eufóricos como seria o nosso convívio num espaço amplo, em meio à
natureza, com equipamentos modernos, salas amplas e bem luminosas. Estávamos na
iminência de um sim, queríamos muito mas nem todos estávamos com tudo
preparado, eu tinha apenas minhas impressões pessoais e minha recem comprada
câmera fotográfica para levar nessa viagem, enquanto a hora da partida não
chegava, passava colocando ela a prova nas mais difíceis condições de luz etc.
Finalmente no dia três de março de 2008 partimos como em uma cruzada medieval
numa comitiva de carros, vans e caminhões pela rodovia João Leme dos Santos,
ainda uma estrada de duas mãos e muito perigosa, em direção ao novo campus.
Para mim aquela experiência assemelhava-se a uma excursão com amigos, procurei
me sentar ao lado do motorista na van, Elias, a fim de poder registrar as
imagens daquela pequena viagem, pequena no percurso, mas grande no significado;
uma nova vida esperava por todos. Essa experiência etnográfica e até certo
ponto antropológica me possibilitou captar, por exemplo, o momento exato em que
o primeiro móvel é descarregado do imenso caminhão baú que encostou com a
traseira sobre a porta do prédio principal. Nesse que era uma espécie de
armariozinho havia colado uma folha de papel escrito: “Isaias”. E assim
improvisadamente, como quase toda a operação, aquela escrita informava o seu proprietário,
o professor Isaias. Alguns anos depois o proprietário daquele armariozinho
venceria a eleição para diretor do campus. Naquelas primeiras semanas do pós
mudança o que mais se via entre os prédios eram docentes e técnicos adaptando
as salas e os espaços que dividiriam com os colegas. E a cada dia mais
gente chegava, carregando caixas, computadores, plantas, livros, objetos
pessoais, sobretudo, professores recem contratados em concursos, isso tudo em
meio à operários que ainda faziam acertos e finalizações no espaço ocupado
improvisadamente por nós. Os operários continuariam lá por mais alguns anos, e
eu iria conversar muito com eles ainda, alias, eles seriam os protagonistas de
um projeto de pesquisa dentro do campus que virou filme em 2009, pelo qual fui
fui chamado, equivocadamente, pelo jornal Cruzeiro do Sul, de cineasta. Não que
eu tenha algo contra cineastas, ao contrário, admiro-os muito, até falei da
importância deles na construção do imaginário coletivo das cidades num livro
meu publicado em 2007, mas estava longe de mim ser um cineasta, não por aquele
filme.
14.8.17
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